A primeira edição foi marcada por um evento muito especial.

Com a 1.ª edição do Prémio Jornalismo de Excelência Vicente Jorge Silva, realizada em 2021, concretizámos a homenagem e eternizamos a memória de um profissional que marcou a história contemporânea do jornalismo português, partilhando também a visão pessoal de Vicente Jorge Silva, juntando a sua família, colegas e amigos.


Em 2021 recebemos 52 candidaturas.

Na 1.ª edição do Prémio Jornalismo de Excelência Vicente Jorge Silva foram recebidas 52 peças jornalísticas, de todos os estilos, desenvolvidas por 53 profissionais.

Valorizar o que de melhor se faz no jornalismo escrito, seja através da investigação, da reportagem ou da análise, contribuir para uma sociedade mais informada e homenagear Vicente Jorge Silva, figura ímpar do jornalismo português das últimas décadas, foram o ponto de partida e a ambição que tornaram esta iniciativa uma realidade.

Júri Convidado

Teresa de Sousa

Jornalista do PÚBLICO

Bio

Maria Teresa Canto Silva de Sousa
Idade — 68 anos
Profissão — jornalista

Habilitações Literárias
Frequência da Licenciatura em Economia do Instituto Superior de Ciências Económicas e Financeiras (actual ISEG), 1969 —1973
Pós-graduação em Prospectiva e Estratégia das Organizações pelo IESFF (1999-2000)

Actividade profissional
Redactora Principal do jornal Público, colunista.
Trabalhou anteriormente no semanário EXPRESSO e na RDP
Comentadora de política europeia e internacional da RDP
Responsável pelo programa Mais Europa da RTP-Informação

Obras publicadas
“Mário Soares – uma biografia”, 1988
“Portugal no Centro da Europa” (co-autoria), 1996
“Portugal 2020” (co-autoria), 1999
“Euro – para além da moeda” (co-autoria, 2002)
“One Europe” (co-autoria, 2005)
“Portugal Tem Saída” – conversas com Mário Soares (2011)
“Conversas sobre a Crise” com Luís Amado
“Europa Trágica e Magnífica” (crónicas, 2017)
“A Europa e o Presente” (2019)

Condecorações
Comendadora da Ordem do Infante D. Henrique
Académica da Academia Internacional da Cultura Portuguesa
Cavaleira da Ordem Nacional de Mérito da República Francesa
Chevalier de la Légion d’Honneur da República Francesa
Cavaleira da Ordem de Mérito do Reino de Espanha

Prémios
Prémio D. Antónia – 2015
Prémio Cidadão Europeu – 2017

Sobre o Vicente Jorge Silva

Ainda hoje e creio que para sempre
Teresa de Sousa

Há pessoas que fazem parte da nossa vida. À distancia ou ao nosso lado, estão lá. Quase sempre. Fazem parte do que somos. Quando partem, levam com elas uma parte de nós. Pequena, grande? Pouco importa. É sempre uma dor. Uma pedra. Uma saudade. Um vazio. O Vicente foi importante na minha vida, por isso levou um pedaço com ele.  Esta é a parte da perda. Vem a seguir a parte da memória.  

Era um ser insubmisso e livre. Conheci muito pouca gente tão insubmissa e tão livre. Foi a primeira lição de tudo o que aprendi com ele. Foi o jornalista com quem mais aprendi a ser jornalista. Tinha imensos defeitos e enormes qualidades. Era temperamental e frio, ao mesmo tempo. Exagerado e simples. Intuitivo e racional. Polémico e excessivo. Trabalhava com paixão, mas nunca se desviava do rigor e da verdade ou daquilo que mais se aproximava da verdade. Da independência possível. Nisso, era absolutamente intransigente. E tremendamente exigente. Tivemos discussões monumentais nas turbulentas madrugadas do fecho da revista. Ainda no Expresso. A Revista do Expresso. Mas, no fundo, aquilo a que eu mais aspirava era ouvi-lo dizer: “Bom texto, Sousinha”. Quando me perguntou se queria ir com ele para fundar o PÚBLICO, não o deixei acabar a frase.  

O PÚBLICO foi a nossa grande aventura. Só ele teria a ousadia, a ambição e a visão de construir neste país um jornal como os grandes jornais europeus. Estávamos em 1989. O ano em que tudo era possível. Caia o Muro. Gorbatchov descongelava o mundo. “O homem que descongelou o mundo”. O título genial de uma das grandes capas que marcaram a história do jornal. A síntese perfeita desse tempo. Dele. Nos momentos em que se aproximava da genialidade. Escancarou as portas e as janelas da imprensa portuguesa ao mundo e o mundo passou a fazer parte integrante do jornalismo português. Foi, talvez, a sua maior contribuição – a sua imensa contribuição – para a história da nossa democracia. Não suportava a ideia de que o noticiário internacional fosse uma simples nota de pé página. O PÚBLICO também nasceu desta irritação.  

Tinha a paixão pela política no sentido mais lato e mais nobre da palavra. Era isso também que eu partilhava com ele. Um dia, discutimos um partido que fosse ao mesmo tempo moderado e radical. Era um individualista no melhor sentido da palavra. Um espírito radicalmente livre. Não se daria nunca bem com as regras de um partido político. Por isso, a sua experiência no PS foi tão curta. Descrevia-a como falava. Com gestos largos, exagerados, quase cómicos. Como descrevia a vida. Encontrávamo-nos às vezes no supermercado da nossa rua. Ficávamos a conversar em voz muito alta, com toda a gente a olhar para nós, porque o Vicente ouvia mal. Na última vez, já em plena pandemia, exagerámos no toque dos cotovelos, na mascarada das máscaras, no lado “demencial” – era uma palavra sua – da situação. Trocávamos mensagens sobre os nossos textos no PÚBLICO. Eu, como no primeiro dia da minha vida no Expresso – há tantos anos – ainda ficava feliz com cada um dos seus elogios. O que posso dizer mais? Que eles são as condecorações que trago ao peito. Ainda hoje e creio que para sempre. 

Daniela Santo

Jornalista reformada da RDP Madeira

Bio

Em 1976, num tempo de sonhos, de um novo amanhecer, num país que acordava do silêncio, iniciei a minha carreira de jornalista . A RDP, rádio pública, foi a minha vida durante quase 40 anos. A rádio foi uma paixão à qual dei voz e alma.

Sobre o Prémio

A defesa de uma imprensa livre e da liberdade, é talvez o maior legado de Vicente Jorge Silva. O Prémio de Excelência é importante para manter vivos os ensinamentos do Vicente. A iniciativa da Imprensa Nacional Casa da Moeda é um desafio aos jovens jornalistas para que nos surpreendam com histórias, entrevistas, reportagens surpreendentes e extraordinárias.

Sobre o Vicente Jorge Silva

Homem de múltiplos talentos, é como jornalista que recordo Vicente Jorge Silva com saudade. A inovação é a marca de todos os projectos em que se envolveu, a começar pelo “Comércio do Funchal”, um projecto que abraçou aos 21 anos. Num meio pequeno como o Funchal, Vicente e os amigos conseguiram negociar com os censores assuntos impensáveis na imprensa do continente. O Jornal cor-de-rosa foi um sucesso. Anos mais tarde, primeiro no Expresso e depois no Público, ofereceu-nos um jornalismo aberto ao mundo com critérios de rigor e independência.

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O artigo vencedor

“Estados Unidos da América, crónica de uma (des)união”

“Desde a sua fundação que o país lida com a desunião. (…) Do nascimento do ‘mito’ à necessidade de redação de um documento que fosse o garante de união de uma democracia formada na diferença da população que a forma, uma diferença de origem, cultural, social, racial, religiosa, de expectativas quanto a esse novo país.”

Isabel Lucas

Isabel Lucas tem formação em Comunicação Social pela Universidade Nova de Lisboa. Jornalista e crítica literária, escreve regularmente no jornal Público e colabora com várias publicações, sobretudo nas áreas de cultura e viagens. Ao longo dos últimos anos tem vivido entre Lisboa e Nova Iorque. É autora do livro Conversas com Vicente Jorge Silva (Temas e Debates, 2013). Viagem ao sonho americano (Companhia das Letras, 2017), resultado de um périplo pelos Estados Unidos da América a partir da sua literatura, uma compilação de reportagens/ensaios publicados ao longo de um ano no jornal Público. E de Viagem ao País do Futuro (CEPE e Companhia das Letras, 2021), projecto de características semelhantes que parte da literatura brasileira para tentar entender melhor o Brasil actual. Os textos nele incluídos foram antes publicados no Suplemento Pernambuco, no Brasil, e no jornal Público. É curadora em Portugal do Prémio Oceanos de Literatura em Língua Portuguesa.


O testemunho de Isabel Lucas, vencedora da 1ª edição do Prémio Jornalismo de Excelência Vicente Jorge Silva

Quando as palavras dão vida a histórias e experiências únicas e as emoções são partilhadas. Assista ao testemunho de Isabel Lucas na sua entrevista à RTP.

As menções honrosas

“Voltar a Marchar”

“Em junho de 2019, o comando Aliu Camará perdeu as duas pernas num acidente na República Centro-Africana. Tinha 23 anos.  (…) O militar entrou numa missão: voltar a andar. E cumpriu. Nem ele consegue explicar a força que tem.”

Raquel Moleiro e Tiago Miranda 

Raquel Moleiro
Licenciada em Ciências da Comunicação pela Universidade Nova de Lisboa, é jornalista do Expresso desde 1999, tendo passado também pelo Diário de Notícias. Queria ser arqueóloga como o Indiana Jones, mas encontrou no jornalismo o mesmo entusiasmo da descoberta, e sem centopeias no cabelo.
Tem a idade da Revolução. Escreve sobretudo sobre imigração, exclusão social e direitos humanos.
Co-autora do livro “Os Jiadistas Portugueses”.
European Press Prize Inovação 2016 e Prémio Cáceres Monteiro, com a reportagem multimédia “Matar e Morrer por Alá”
Prémio AMI 2018, com a reportagem “Escravos do Rio”
Prémio ‘Direitos Humanos & Integração’ 2020, na categoria de Meios Audiovisuais, da Comissão Nacional da UNESCO e da Secretaria Geral da Presidência do Concelho de Ministros, com a reportagem “Pareciam foguetes de lágrimas”.

Tiago Miranda
Fotojornalista do Expresso desde 2005, licenciou-se em Design de Comunicação pela Escola Superior de Belas Artes de Lisboa, enquanto cursou Fotografia no IADE, à noite
Prémio Estação Imagem 2017 com “Mama Sumae”
Prémio Gazeta 2018 com a reportagem multimédia “Estamos aqui para formar animais de combate”.
Prémio ‘Direitos Humanos & Integração’ 2020, na categoria de Meios Audiovisuais, da Comissão Nacional da UNESCO e da Secretaria Geral da Presidência do Concelho de Ministros, com a reportagem “Pareciam foguetes de lágrimas”.

“Luanda Leaks. Como Isabel dos Santos desviou mais de 100 milhões de dólares da Sonangol para o Dubai ”

“(…) peça principal da investigação publicada pelo Expresso no âmbito do projeto Luanda Leaks, sobre a mulher mais rica de África, Isabel dos Santos, e o seu marido Sindika Dokolo, feita em colaboração com a SIC e no âmbito do Consórcio Internacional de Jornalistas de Investigação (ICIJ)”

Micael Pereira e Luís Garriapa

Micael Pereira

Micael Pereira é grande repórter no jornal Expresso. Tem investigado casos de corrupção em Portugal e também em alguns países africanos, como o Congo, Angola ou a Guiné Equatorial. É membro do Consórcio Internacional de Jornalistas de Investigação, o ICIJ, e esteve envolvido em muitos dos seus projetos, incluindo o Panama Papers e o Luanda Leaks. Faz também parte da rede EIC (European Investigative Collaborations), conhecida pelas investigações Football Leaks e Malta Files. É autor do documentário Black Trail, uma coprodução europeia estreada este ano sobre porque é que os navios continuam a queimar e emitir o mais sujo dos combustíveis.   

Luís Garriapa

Licenciado em Ciências da Comunicação pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa. Jornalista da SIC desde 1994. 

Trabalhou nos Programas “Casos de Polícia”, “Grande Reportagem” e como repórter especializado na área da justiça.

Desde julho de 2019 desempenha funções de Editor de Sociedade da SIC. 

 

Descubra outras histórias destacadas pelo júri:

A Caixa de Correio de Nossa Senhora – Os oito milhões de segredos de Fátima (1ª parte) e Cartas de Guerra (2ª parte)

António Marujo

Sinopse

Correio de Nossa Senhora é a designação de uma parte do arquivo do santuário de Fátima, que recolhe cartas e mensagens deixadas pelas pessoas no santuário ou enviadas para lá. Neste momento com cerca de oito milhões de mensagens, esta investigação centrou-se nas cerca de 50 mil que foram recolhidas até 1977, data limite estabelecida pelos responsáveis para a possibilidade da consulta do arquivo. Nessas mensagens e cartas, encontramos muitos mistérios e declarações, pedidos de saúde ou de emprego para o próprio ou para outras pessoas, amores proibidos e confessados, crimes escondidos, desilusões amorosas, angústias existenciais, orações pela paz no mundo e pela “conversão dos pecadores” ou da Rússia, pelo fim da Guerra Colonial na sua dimensão política (a derrota dos “terroristas” ou do “comunismo”) ou mais pessoal (o regresso de um filho, um namorado, um neto mobilizados)… Se em cada mensagem há um mistério, todas juntas elas revelam muito do que era o país, há poucas décadas, marcado ainda pelo analfabetismo, pobreza e falta de protecção social. E revelam, também, muito do que foi e é importante na vida de milhões de portugueses e estrangeiros: os pedidos para que filhos, netos, noivos ou namorados regressem da guerra, sãos e salvos; que o pai deixe de bater na mãe; que o marido deixe a vida dissoluta; que a mulher deixe de ser ofensiva e aceite a família do cônjuge; que os pais se dêem bem; que se consiga o emprego necessário; que se encontre um noivado ou um namorado desejado; que se resolvam problemas de saúde ou se obtenha a passagem nos exames para os quais (pouco ou nada) se estudou… Uma investigação inédita que desvenda, pela primeira vez, um arquivo até agora desconhecido e revela como foi a relação de muitas pessoas com a questão da guerra colonial, cruzada com a sua religiosidade pessoal ou com a expressão colectiva da fé.

A 50 degraus de casa

Christiana Martins

Sinopse

Um ser humano que sabe que vai morrer, que não tem muito tempo para fazer e dizer tudo o que tem dentro de si. Um ano diferente de todos os que vivemos, um ano marcado por uma pandemia, que nos afasta fisicamente dos nossos semelhantes. Uma doença nova e assustadora que domina o espaço mediático, anulando todas as outras doenças que continuam a matar. Uma jornalista que tem necessidade de relatar o que sente quem tem a vida a escoar entre os dedos, que não está infetado pelo novo vírus, mas tem uma mensagem a deixar à comunidade. Um trabalho de muitos meses, marcado por muitos constrangimentos, um texto sobre a vida de quem está a morrer. Uma partilha e um agradecimento. A história de Pedro Diogo é só isso e é tanto que vos submeto à leitura. Há 25 anos comecei a aprender a ser jornalista, lição longe de estar concluída. Comecei pelas mãos de uma equipa rara, empenhada, ética, criativa, a equipa liderada por Vicente Jorge Silva no Público. É por isso com grande emoção que agora vos apresento um dos textos mais difíceis que já fiz. Uma história simples, sem efeitos especiais, a história de Pedro Diogo, o homem que quer explicar o que sente quem sabe que vai morrer. Num ano em que a morte foi tão nossa companheira.

Os Devolvidos

Ana França

Sinopse
A devolução de migrantes aos países de onde primeiramente tentaram entrar em espaço europeu é um fenómeno com décadas mas Portugal despertou para o problema quando, em maio de 2020, o Expresso descobriu que um cargueiro com bandeira portuguesa, e portanto obrigado a cumprir todas as leis nacionais, havia devolvido 100 pessoas às autoridades líbias. O Tribunal Europeu de Justiça já disse que a Líbia não é um país seguro, logo o envio de pessoas para lá está proibido pela lei internacional. Essas pessoas são apenas 100 entre os milhares que todos os anos várias polícias europeias, marítimas e terrestres, empurram para fora das nossas fronteiras. O texto “Os Devolvidos” é o resultado de seis meses de análise de dados, entrevistas com autoridades portuguesas presentes nos sítios onde estes fenómenos são mais comuns e também com algumas pessoas que foram expulsas de forma extremamente violenta da UE. Duas aceitaram falar com os seus primeiros nomes: Matti, afegão professor de inglês que teve de fugir porque ensinava clandestinamente tanto rapazes quanto raparigas e os talibãs não apreciam esse tipo de igualdades; e Lisa, síria cristã que casou com um sunita e teve de fugir porque a família dele os perseguia – e perseguiu até bem depois da Síria. A Europa era o sonho de ambos – o caminho até esse sonho foi uma sucessão de barreiras, impostas ilegalmente pelas autoridades europeias.

Com o diabo na rua

Isabel Lucas

Sinopse

Esta reportagem é a última de uma série de 12 em que viajei pelo Brasil a partir da sua literatura. As reportagens foram publicadas ao longo de um ano, uma por mês, entre 2019 e 2020. Nesta entro no território do romance de João Guimarães Rosa, “Grande Sertão: veredas”, uma das grades obras escritas em língua portuguesa que cria um território mítico a partir de uma geografia real: as margens do Rio S. Francisco na fronteira com os estados da Bahia e de Minas Gerais. O livro é uma espécie de guia para tentar entender a complexidade não apenas daquela paisagem e de quem a habita, mas da essência de um país marcado pela desigualdade — social, étnica, religiosa, geográfica — unido por uma língua sempre a ser reinventada de modo a ajustar-se melhor à realidade que quer comunicar. Ali, estamos diante de um rio que é um mar que é uma estrada, que é uma veia que alimenta parte do imenso Brasil e contém muitas das suas especificidades e da mitologia que o constitui: a luta entre bem e mal, as marcas da colonização, a figura do salvador, a honra, a paixão, e a aridez, a falta, o preconceito, a lei da sobrevivência. É nessa complexidade que Guimarães Rosa pergunta o que é o homem, o que é Deus, o que é o Brasil e tenta ir ao osso de uma identidade, reinventando uma linguagem no lugar onde ela se mantém mais próxima do arcaísmo, porque ali a sociedade é mais fechada, ficou mais isolada, pela geografia, pela pobreza, pelo esquecimento. É o Sertão como uma espécie de princípio de mundo.

Morreram 1047 idosos em lares com covid-19. O que é preciso para acabar com os “depósitos de velhos”?

Natália Faria

Sinopse

O artigo procurou, a partir das perspectivas de utentes, familiares, académicos e responsáveis pelas instituições, entre outros, denunciar as debilidades do nosso actual modelo de acolhimento de idosos, num momento em que o SARS-CoV-2 grassava naquelas instituições, deixando um rasto de vítimas mortais. O objectivo foi, para além de denunciar as falhas do actual modelo que se vêm arrastando há décadas sem aparente vontade política para as colmatar (numa necessidade agudizada ainda pelo progressivo e inelutável envelhecimento populacional) , apontar alguns caminhos futuros, identificando soluções alternativas, algumas das quais já existentes no nosso país.

Notícias do Fim do Mundo

Ana França

Sinopse
O Líbano é uma teia de crenças, desconfianças, corrupçõezinhas rotineiras e outras do tamanho da maior explosão não-nuclear registada na história – em tempo de paz ou em tempo de guerra. Aconteceu dia 4 de agosto de 2020, no porto da capital, Beirute. No meio de tudo isso, um povo que não sabe a quem pedir ajuda. A força da explosão varreu a baixa do mapa, voaram vidros a 70 km/h para dentro das casas de quem estava mais perto, mais de 200 pessoas morreram e milhares ficaram feridas, incapacitadas para sempre. A quem sobreviveu resta a revolta de saber que esta era uma tragédia evitável se o Líbano fosse um país. Mas não é. Está partido em quadrantes de influência das cerca de 20 religiões aceites: a cada esquina, um libanês que precise do seu governo depara-se com uma parede, tão indestrutível como a própria fé que a ergueu. Em quem, em quê, acredita ainda este país depois desta tragédia? E depois de anos de guerras entre irmãos, ocupações estrangeiras, injustiças, um libanês tem medo de quê?

Cristovam Pavia. O mistério do H.M.E.

Ricardo Marques

Sinopse

Reportagem que nasce de um programa de rádio ouvido durante a viagem diária entre Oeiras e Peniche. Na Antena 2, num programa sobre Poesia, ouço que um poema atribuído a um poeta português era, na verdade, de um autor alemão. Não conhecia nenhum deles, nem sequer tinha ideia do que acontecera. Passei as semanas seguintes a tentar identificar todos os participantes na história e a conhecer a obra dos poetas envolvidos.


Recorde os melhores momentos e assista a toda a cerimónia de entrega de prémios da 1ª edição em 2021.

O Prémio

O Prémio Jornalismo de Excelência Vicente Jorge Silva atribuiu uma bolsa de investigação jornalística no valor de 5.000 EUR ao trabalho vencedor. Os profissionais selecionados receberam um troféu da autoria do designer português Henrique Cayatte, cuja amizade, história e percurso profissional se cruza também em momentos chave da vida de Vicente Jorge Silva.

Reflete os três grandes momentos de comunicação editorial e jornalística através da representação conceptual de 3 páginas de jornal, que se sobrepõem mas têm sempre a sua individualidade e identidade, enquanto marcos.

Apela também à pluralidade presente no percurso e legado do jornalista, com que teve a oportunidade de colaborar ao longo de vários projetos, perpetuando assim essa visão nos novos jornalistas que agora se candidataram.

Recorde e celebre connosco os momentos da cerimónia.

“O Vicente Jorge Silva deixou uma grande recordação e uma grande saudade e admiração intelectual a todos”

José Jorge Letria
Presidente SPA

“A ilha. O atelier de fotografia Vicentes. O romantismo manterializado na paixão pela imperatiz Sissi. A mania de questionar. O deslumbramento pelo cinema. Tudo aspetos de uma personalidade irrequieta e inquieta que o levaram à aventura do Comércio do Funchal, à revista do Expresso, a fundar o Público, ao jornalismo como grande exercício da liberdade.”

Jorge Wemans

Criar este prémio representou para a INCM a prossecução de uma missão. Estou certo que que conseguimos encontrar nas peças premiadas um bocadinho do legado que o Vicente Jorge Silva nos deixou. Relembrá-lo é regressar ao melhor do jornalismo, das pessoas e da sociedade democrática.

Gonçalo Caseiro

Dou os parabéns à INCM por esta iniciativa e por aquilo que representa na homenagem ao Vicente Jorge Silva e ao jornalismo em Portugal. Não há democracia sem imprensa livre. Não há democracia sem jornalismo de qualidade. Não há democracia sem o que Vicente Jorge Silva foi, representa e o que aqui homenageamos.

Graça Fonseca

Um ano depois do desaparecimento de Vicente Jorge Silva, o jornalismo português de excelência, de que ele foi um intransigente defensor, está vivo, de excelente saúde e recomenda-se. Será uma surpresa para muitos e outros tantos o negarão. Mas esta é a conclusão óbvia resultante da análise dos 52 trabalhos que se candidataram ao Prémio Jornalismo de Excelência Vicente Jorge Silva. E isso foi bem evidente na dificuldade que o júri, constituído por Teresa de Sousa, Manuel Carvalho, João Vieira Pereira, Daniela Santo e eu próprio, teve para avaliar os trabalhos, que foram classificados numa escala de zero a vinte, com a diferença entre o primeiro e o décimo a ser apenas de 0,9 pontos.

Sublinhe-se depois que a qualidade dos trabalhos não se circunscreveu à plataforma dos semanários, jornais diários ou revistas. Veio também de televisões, da agência noticiosa ou de sites. Não se limitou aos órgãos generalistas. Apresentaram-se a concurso vários trabalhos divulgados na imprensa regional ou local ou em órgãos especializados, nomeadamente de economia. E todos os géneros estiveram representados, da reportagem à investigação, da entrevista à análise, das histórias de vida à informação pura e dura. Há textos sobre a realidade nacional e sobre a situação internacional. Há textos que denunciam, outros que revelam, outros que contam tragédias individuais, outros que se debruçam sobre a devastação que a pandemia causou nos hospitais e na vida de milhares de pessoas. Há textos sobre política, sobre saúde, sobre sociedade, sobre crimes de colarinho branco, mas também sobre desporto, sobre cultura, sobre poesia, sobre arte, sobre história. Há textos que nos tocam, outros que nos horrorizam, uns que nos abrem horizontes, outros que nos revelam as entrelinhas da História. Em quase todos sobressai, para além do interesse dos temas tratados, uma enorme qualidade na escrita. E não há maior prazer que ler uma grande história jornalística excecionalmente bem escrita.

A perplexidade que fica depois desta primeira edição do Prémio Jornalismo de Excelência Vicente Jorge Silva é como pode a imagem do jornalismo português junto da opinião pública estar longe de ser positiva apesar da enorme qualidade de muitos profissionais que trabalham no setor e que estas candidaturas tão bem evidenciam. Por isso, há que agradecer ao conselho de administração da Imprensa Nacional / Casa da Moeda a decisão que tomou, em boa hora, de criar este prémio e de lhe dar o nome do mais importante jornalista português dos últimos 50 anos. Ele vai contribuir para termos mais e melhor jornalismo em Portugal e para honrar o nome do profissional que sempre lutou por isso: Vicente Jorge Silva.

Os agradecimentos finais são para os membros do júri, que tiveram um árduo trabalho a ler e classificar todos os textos, debatendo em sã camaradagem mas com veemência os seus pontos de vista. E também para o entusiasmo, a competência, o apoio e a dedicação da Mónica Paredes e do Nuno Ferreira. Sem eles, tudo teria sido bem mais difícil.

Nicolau Santos
Presidente do Jurí
Presidente do Conselho de Administração da RTP

PARCEIRO INSTITUCIONAL